sábado, 21 de maio de 2011

Ilusões - Richard Bach

Para aqueles que querem aprender algo novo, tocar um instrumento ou falar um novo idioma, ou qualquer outra nova habilidade...





Deixar de saber que não se sabe tocar violão

Capítulo 17 do Livro Ilusões de Richard Bach

   As lojas de ferragens são sempre compridas, com prateleiras que se
estendem eternamente.

   Fui à Loja de Ferragens de Hayward, pois precisava de porcas, pinos e
arruelas de segurança para o deslizador da cauda do Fleet. Shimoda olhava as
coisas, com paciência, enquanto eu procurava, pois ele, naturalmente, não
precisava de nada de uma loja de ferragens. A economia entraria em colapso,
pensei, se todos fossem como ele, fabricando o que quisessem de formas de
pensamento e do ar, consertando as coisas sem peças nem mão-de-obra.
Afinal encontrei a meia dúzia de porcas de que precisava e levei-as ao
balcão, onde o dono da loja tocava uma música suave. Greensleeves, uma
melodia que me acompanha alegremente desde menino, era tocada agora numa
flauta em um sistema de som escondido... Estranho encontrar aquilo numa
cidade de 400 habitantes.

   Quando acabou, era estranho para Hayward, também, pois não havia
sistema de som algum. O proprietário estava sentado inclinado para trás em
seu banquinho de madeira, escutando Shimoda tocar as notas num violão
barato, de seis cordas, da prateleira dos saldos. Era um som lindo e fiquei ali
quieto, pagando os 73 centavos e novamente encantado com a melodia. Talvez
fosse o tom metálico do instrumento, mas ainda parecia longínquo e nublado,
como se da Inglaterra do outro século.

— Donald, que beleza! Não sabia que toca violão.
— Não sabia? Você acha então que alguém podia chegar perto de Jesus
Cristo, dar-lhe um violão e ouvi-lo dizer: “Não sei tocar esse negócio.” Ele
teria dito isso?
Shimoda recolocou o instrumento no lugar e saiu comigo.
— Se aparecesse alguém falando russo ou persa, você acha que algum
mestre que mereça a sua aura não saberia o que estava sendo dito? Se ele
quisesse dirigir um trator D-10 ou pilotar um avião, não saberia fazê-lo?
— Então você realmente sabe todas as coisas, não é?
— E você também, naturalmente. Só que eu sei que sei todas as coisas.
— Eu poderia tocar violão assim?
— Não, você teria o seu estilo, diferente do meu.
— Como é que se faz?
Não pretendia correr de volta e comprar o violão, estava apenas curioso.
— É só largar todas as inibições e idéias de que não sabe tocar. Pegue
naquilo como se fizesse parte de sua vida, como de fato faz, em alguma vida
alternada. Saiba que o certo é você tocá-lo bem, e deixe que o seu ser não-
consciente tome conta de seus dedos e toque.
Lera alguma coisa a respeito disso, a aprendizagem hipnótica, em que
se dizia aos discípulos que eles eram mestres de arte, e assim tocavam,
pintavam e escreviam como artistas.
— É uma coisa difícil, Don, deixar de saber que não sei tocar violão.
— Então será difícil para você tocar violão. Levará anos de prática até
conseguir fazê-lo direito, até que a sua mente consciente lhe diga que você já
sofreu bastante e conquistou o direito de tocar bem.
— Por que não custei a aprender a pilotar? Dizem que é difícil, mas
aprendi rápido.
— Você queria voar?
— Nada me interessava mais! Mais que tudo! Olhava para as nuvens e
para a fumaça da chaminé de manhã, subindo reta e calma, e via... Ah, já sei.
Você vai dizer: “Nunca sentiu isso quanto aos violões, não é?”
— Nunca sentiu isso quanto aos violões, não é?
— E essa sensação de desânimo que estou sentindo agora mesmo, Don,
me diz que foi assim que você aprendeu a pilotar. Simplesmente entrou no
Travel Air, um dia, e o pilotou. Nunca tinha estado num avião antes.
— Não.
— Você não fez exame para tirar o seu breve? Não, espere. Você não
tem breve algum, tem? Um breve direito.
   Ele me olhou de um modo estranho, com um sussurro de sorriso, como
se eu o estivesse desafiando a apresentar um brevê e ele soubesse que podia
fazê-lo.
— Você quer dizer, aquele papel, Richard? Esse tipo de licença?
— Sim, o pedaço de papel.
   Não pôs a mão no bolso, nem tirou a carteira. Apenas abriu a mão
direita e lá estava um breve de aviador, como se estivesse esperando que eu
perguntasse por ele. Não estava desbotado nem amassado, e achei que dez
segundos antes nem sequer existia.
   Mas peguei-o. Era um certificado oficial de piloto, com o carimbo do
   Departamento dos Transportes, Donald William Shimoda, com um endereço
em Indiana, piloto comercial licenciado para pilotar aviões terrestres,
monomotores e múltiplos, para vôo com instrumentos e planadores.
— Não tem licença para pilotar hidroaviões ou helicópteros?
— Terei, se precisar — disse ele, tão misteriosamente que arrebentei de
rir antes dele começar a rir.
   O homem que varria a calçada olhou para nós e também sorriu.
— E eu? — perguntei. — Quero minha licença para avião comercial.
— Você vai ter de forjar suas próprias licenças — respondeu.

terça-feira, 3 de maio de 2011

O Barato da Barata

O Barato da Barata é um projeto de música infantil formado por mim e minha companheira Helena Sofia.

Nessas duas últimas semanas tivemos duas apresentações: Uma em Antonina para as vítimas das enchentes e outra num acantonamento para crianças que a Ligia Dorcas Araujo (minha mãe) organizou em sua casa.

Confira e divirta-se com as fotos:
                                                    http://baratodabarata.blogspot.com/